A morte está em nossas mãos

Autores

  • Victor Rebelo Procaci Centro Universitário de Volta Redonda, Volta Redonda, RJ - UniFOA.

DOI:

https://doi.org/10.47385/cmedunifoa.637.2.2015

Palavras-chave:

Semmelweis, infecção nosocomial, prevenção

Resumo

Introdução: Com a alma e a consciência inflamadas pela revolta – após ler a saga de Semmelweis em tentar convencer seus contemporâneos sobre a importância da higienização das mãos para a prevenção da febre puerperal, fato que ocorreu há 168 anos e demorou décadas a ser aceito pela comunidade médico-científica (BEST e NEUHAUSER, 2004) me propus a escrever sobre a minha indignação perante o descaso que tantos profissionais de saúde apresentam em relação à higienização das mãos. Prática tão simples, que há mais de 150 anos se mostra eficaz na prevenção de infecções e, até hoje, é banalizada por muitos. Relato de Experiência: Em 1847, após diversas tentativas de tentar compreender a alta porcentagem de mortes por febre puerperal, em uma das enfermarias obstétricas, do Hospital Geral de Viena, Ignaz Philipp Semmelweis teve uma epifania. Ele percebeu que as pacientes examinadas por médicos e estudantes, que constantemente realizavam necropsias no hospital, apresentavam uma incidência maior de febre puerperal, doença que, em poucos dias, as arrastava para a sepultura (BEST e NEUHAUSER, 2004). Ao realizar tal observação, o médico ordenou que antes de examinar as pacientes, era imprescindível a lavagem das mãos, a fim de remover substratos cadavéricos que poderiam ser a gênese das infecções letais. Com o tempo, Semmelweis observou que a prática instituída era também essencial ao término do exame de uma paciente, para que se pudesse examinar a outra, sem assim, difundir matéria pútrida de uma doente para as demais e com isso, reduziu em 90% o número de mortes em sua enfermaria (ATAMAN; VATANOĞLU-LUTZ; YILDIRIM, 2013). É notável que, há dois séculos, antes mesmo do conhecimento dos microrganismos, essa observação tenha sido feita. Infelizmente, o eminente médico não viveu para ver seu conhecimento iluminar o mundo, imerso em trevas e ignorância. Ele lutou com ímpeto para difundir suas ideias inovadoras, porém tais descobertas levaram anos para se consolidar no mundo científico (BEST; NEUHAUSER, 2004; LANE, BLUM; FEE, 2010). Espanta-me que tenha demorado tanto tempo para aceitar tal conhecimento, visto que as experiências de Ignaz demonstravam claramente a diminuição no número de mortes por febre puerperal (ATAMAN, VATANOĞLU-LUTZ; YILDIRIM, 2013). No entanto, estamos nos referindo a uma época em que nada se sabia sobre os microrganismos, logo, a experiência de Semmelweis era algo completamente inovador, mudando assim, tudo o que se sabia sobre o assunto e como mudanças drásticas, em sua maioria, não são confortavelmente aceitas, esse processo foi deveras lento. Cento e sessenta e oito anos se passaram desde a descoberta do médico húngaro e muito foi acrescentado à sabedoria científica. O surgimento da internet permitiu que a disseminação do conhecimento se tornasse universal e instantânea. Entretanto, um resquício de trevas daquela época ainda paira em muitos serviços de saúde. Estudos realizados entre 1995 e 2008, demonstraram que a prevalência de infecções nosocomiais gira em torno de 5,1% a 11,6% em países desenvolvidos e, aproximadamente, a mesma proporção de pacientes adquire uma infecção durante um episódio de internação hospitalar. A prevalência no Reino Unido é de 7,6% em comparação com 14% em nosso país. Somente em Belo Horizonte, no ano de 1992, os gastos com infecções nosocomiais foram estimados em US$ 18 milhões (WHO, 2012). Apesar da pouca experiência que tenho, constantemente observo nos hospitais vinculados à minha Universidade situações que remetem à era anterior ao surgimento da microbiologia: médicos, enfermeiros, estudantes, fisioterapeutas que examinam e fazem procedimentos sem tomar as medidas necessárias para a prevenção das infecções e, com isso, surtos de microrganismos cada vez mais virulentos ceifam vidas de nossos pacientes. Infelizmente, não é só em minha cidade que vejo essa lástima acontecer. Presenciei a mesma situação em grandes hospitais que visitei e, até mesmo, no maior centro de Infectologia de nosso país, lugar que julgava ser o último a acontecer tal evento. Conclusão: Como é possível tamanha ignorância se perpetuar nos dias atuais? Quais medidas devemos adotar para que os profissionais de saúde se conscientizem da magnitude desse problema? Seria o ensino, nas universidades, que deixa a desejar? Quando e quanto devemos fornecer de orientação sobre a higienização das mãos e outras práticas de prevenção de infecções nas universidades? Deixo esses questionamentos aos ilustres professores e a todos aqueles que desejam prover melhores cuidados aos pacientes, pois já passou da hora de lavarmos a morte de nossas mãos.

Referências

ATAMAN, A. D.; VATANOĞLU-LUTZ, E. E.; YıLDıRıM, G. Medicine in stamps-Ignaz Semmelweis and Puerperal Fever. Journal of the Turkish German Gynecological Association, Viena, v. 14, n. 1, p. 35-39, mar. 2013.

BEST, M.; NEUHAUSER, D. Ignaz Semmelweis and the birth of infection control. Quality & safety in health care. Cleveland, v. 13, n. 3, p. 233-234, jun. 2004.

LANE, H. J.; BLUM, N.; FEE, E. Oliver Wendell Holmes (1809–1894) and Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865): Preventing the Transmission of Puerperal Fever. American Journal of Public Health, Rochester, v. 100, n. 6, p. 1008-1009, jun. 2010.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The burden of health care-associated infection worldwide. Disponível em: <http://www.who.int/gpsc/country_work/summary_20100430_en.pdf>. Acesso em: 8

maio 2015.

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Publicado

15-05-2015

Como Citar

Rebelo Procaci, V. (2015). A morte está em nossas mãos. Congresso Médico Acadêmico UniFOA, 2. https://doi.org/10.47385/cmedunifoa.637.2.2015

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